Considerando a Holanda um país diametralmente oposto ao Brasil, não é de se espantar que vivendo aqui, um brasileiro possa vir a aprender muitas coisas que seriam difíceis de encontrar abaixo da linha equador. Na Holanda, por exemplo, não existe o boteco, a vendinha da esquina, aquela portinha que mais poderíamos chamar de um “buraco na parede”.
A coisa aqui funciona diferente: ao invés da coxinha, existe o frikandel, ao invés da empadinha tem o krokete e são servidos em snackbars. Na passagem do florin para o euro, esta parcela do comércio foi responsável pelo aumento de preços dos mais abusivos. O que antes custava 1 florin, passou a custar 1 euro i.e. 2,2 vezes mais caro. Em Amsterdã, apesar da maioria dos snackbars servirem comida de qualidade mediana e com atendimento dos piores do mundo. Ainda bem que foi implementada uma lei contra o fumo em espaço público, pois até dois anos atrás era muito comum ir-se a estabelecimentos com gente fumando em espaços pequenos.
Mas Amsterdam ainda conserva o mesmo padrão cocô do serviço holandês, onde os vendedores que preparam os lanches com a mesma linda e maravilhosa mão (imunda) que pegam no dinheiro e fumam; este tipo de estabelecimento, e todos os outros similares de comida rápida, vão muito bem e ganhando muito dinheiro. De onde vem essa fonte de renda se a qualidade é tão duvidosa, o atendimento tão irritante e a higiene tão desleixada? E esta foi uma das coisas diferentes que eu, aprendi aqui na Holanda: para minha grande surpresa, descobri que o principal motivo dos lucros, aquilo que faz o negócio ir pra frente, são os guardanapos de papel. No snackbar, no FEBO da vida, no ordinário Mac Donald, no kebab do egípcio, na barraca do Oliebol, seja qual for o pedido, o balconista dará sempre apenas UM e ÚNICO guardanapo. E se o cliente pedir outro, um olhar reprovador cruzará os ares do estabelecimento e somente mais UM guardanapo será entregue, com uma educação fria, num ato constrangedor. O cliente então leva pra casa dedos oleosos e um enorme sentimento de culpa. Certa vez, eu comprei cinco oliebollen. (Oliebol , traduzindo ao pé da letra, é bola de oleo). É uma espécie de sonho sem graça, sem recheio, coberto de açúcar pra disfarçar o gosto do óleo úmido. Aproveitamos a promoção de apenas um euro e cinqüenta pra toda a família: a patroa, os três mostrinhos, comumente chamados de filhos, e eu . Fazemos isso mais pela tradição do que pelo prazer. Ficamos no frio, pois esta é uma tradição do inverno, esperamos logamente na fila, pra depois não reclamar que não nos adaptamos às tradições do país. A loirice aguada e educada da vendedora apanha um saco, coloca lá as cinco unidades, e bastante açúcar por cima. Depois coloca UM mísero guardanapo dentro do saco. Fecha um saco e abre um sorriso. Cinco oliebollen pra quatro pessoas e UM guardanapo. Sem que se tenha tempo pra perguntar por mais lenços de papel, ela já nos dá um “ doei ” e vai atender o próximo cliente. Eu como sou prevenido já trago os bolsos cheios de guardanapos. Sempre que posso eu apanho extras, pois conheço a “minha gente”. Isso porém não evita que antes que se possa tirar os lenços do bolso, a criança já não esteja coberta de açúcar até os cabelos e as mãos oleosas, sendo gentilmente limpas na calça nova do pai. No Brasil não é assim, não. Você pode ir a qualquer lugar que lhe é servidor MUITOS guardanapos. Sim, eles são mais finos e se desmancham no ar, mas estão lá, à vontade do freguês. É por isso, que a renda per capita brasileira é mais baixa que a da Holanda. O Brasil deve perder milhões por ano em guardanapos, enquanto os holandeses, devem lucrar horrores. Ari Carlos, um florianopolitano conhecido meu, que veio morar em Amsterdã, muito sagaz, como todo florianopolitano, logo percebeu este detalhe da economia holandesa. Ele então passou a frequentar locais onde podia apanhar guardanapos de papel livremente. Em pouco tempo, ele já havia acumulado suficiente para iniciar um tráfico destes lenços de papel. Ele criou uma bolsa ilegal de guardanapos no seu apartamento, em Amsterdã Norte e passou a operar no câmbio negro junto com a máfia do Suriname , que usava o aeroporto de Schiphol com ponto de abastecimento. Mas logo caiu nas malhas da polícia ao ser flagrado apanhado fazendo ponto de tráfico de guardanapos perto de um restaurante de comida rápida, que de rápida não havia nada. Ele aproveitava a lerdeza dos vendedores e a fila enorme e realizava assim, seu tráfico. Chegou o dia infelizmente que ele foi apanhado. A interpol já estava ao seu encalço. Uma busca em sua casa apreendeu toneladas do precioso objeto, armas, (sim, o tráfico de guardanapos é muito perigoso, imagine-se sendo perseguido por um holandês gordo atirando-lhe frikandel pelas costas) e milhares de euros. Com isto fica provado mais uma vez que o crime não compensa e o melhor mesmo é adaptar-se ao país onde se vive e aceitar as circunstâncias. Afinal, pra que se importar com seus dedos imundos, se todo mundo à sua volta também os têm?
Postado `as 5:19 PM
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7.7.09
Quando você me disse que iria fazer minha mudança, eu pensei quer você pudesse carregar algo mais que a minha desilusão com o Ademar. Eu pensei que além das minhas mágoas, você levaria também o meu colchão de casal e a guarda roupa de pinho.
Mas, está tudo bem, você levou pelo menos, no seu carrinho singelo, todos os anos acumulado de tristeza.
Quem mesmo precisa de um guarda roupas investado de cupim quando se pode rir do barulho estranho a cada curva? e se esquecer que afinal, se deixa uma casa sem toda a mudança, mas pelo menos se diverte com um amigo, sua boa vontade, e seu carro adaptado, pra carregar nada mais do que engradados de cerveja.
Postado `as 11:15 PM
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6.7.09
Coloquei uma câmera na janela. Na Janela pus uma câmera. E deixei rodando minha retina eletrônica.
Ela copiou os momentos de luz que entravam pela janela e guardou tudo no disco duro.
Minha inteligência de silicone re arranjou tudo num arquivo que ficou exposto no tubo.
Postado `as 12:15 PM
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Aquele casal chegou num dia de sol no verão de Amsterdã. Eles
desembarcaram com uma filhota e um moleque sob o céu azul do
Schiphol.
Foram direto pra casinha já os esperando num dos canais da cidade.
Os vizinhos de cima eram de origem africana e falavam francês, e os
de baixo, típicos holandeses. Todos tinham filhos e logo a pequena,
com seus cabelinhos castanhos se juntou ao pixaim dos neguinhos de
cima e com os cachos loiros do batavinho de baixo.
O moleque se misturou aos outros moleques da vizinhança e estava
assentada uma família numa vizinhança alegre e mista, culturalmente
rica, interessante.
Tudo corria perfeito, os papéis todos prontos, o emprego sonhado, o
canal bucólico.
Pra ser mais exato, quase tudo perfeito, pois sempre tem alguma
coisa pra obscurecer a luz da felicidade da gente. E neste caso,
havia baratas.
Baratinhas francesas, como foram chamada por um amigo alemão, que
veio de visita na mansão do sonho.
No começo se desculpavam afirmando que, pelo menos, não eram aquela
baratonas voadoras e enormes do Brasil, mas baratinhas amarelinhas e
minúsculas.
Mas depois, a quantidade aumentou tanto que as baratinhas, não
somente andavam por todos os lados da casa, mas também pelos
pensamentos do casal, o tempo todo.
Não adiantaram as armadilhas de plástico, as chineladas, as
reclamações de toda hora. Os inseticidas holandeses pareciam
deixá-las mais doidinhas. No fim, elas se viciavam e pediam mais.
Tentaram de tudo, mas exterminá-las, nenhum sinal.
Resolveram conviver com a situação, para não ficarem loucos. Mas
mesmo assim, ela jurava que ouviu as baratinhas cantando.
Ele perguntou se ela havia experimentado uma canabis holandesa,
tamanho o delírio que era ouvir baratas cantando. Mas, era verdade
que elas cantavam, sim. Não era só imaginação dela, não. Elas não só
cantavam, em francês, como também dançavam can-can, em animadas
noitadas pela casa enquanto a família dormia.
A cada dia elas ocupavam mais espaço. No começo, passavam pela sala
sem pedir licença, depois já estavam mudando o canal da TV e por
fim, e ficavam até altas horas no computador em salas de conversa
pela internet.
Mas o pior mesmo, foi no dia que ele pegou seu moleque jogando
vídeo-game com uma barata filhote. A criança alegou que o
baratinho ali conhecia todos os truques e “cheats” do seu jogo
preferido.
Ele, até ciúmes das baratas teve, quando ficava esperando-a na cama,
até que ela acabasse a conversa com uma barata macho, grisalho, de
terno e jeans, de conversa fácil. Ele perguntava o que ela via nele,
e ela só respondia, que ele era um “barato”.
O casamento deles já estava por um fio, e numa noite que o barateado
se divertia na sala rindo e cantando, (La cucaracha, ya no puede
caminar, porque no tiene, porque le falta, marijuana que fumar), ele
puxou-a para um lado para conversarem no quarto.
Salvaram o casamento numa noite cheia de declarações. Ela afirmando
que não iria deixá-lo, que ele não se preocupasse, aquilo era só um
ciúme barato, e ela ainda aproveitou pra pedir pra ele parar de
ficar olhando as pernas daquelas adolescentes baratas que cruzavam a
casa. Ele argumentou que era impossível não ver, dado à quantidade
de pernas que possuíam as baratas-mocinhas.
E chegaram também à conclusão de que deveriam fazer algo para
arrumar aquela situação, mas isso vai ficar pra próxima crônica, que
o feijão tá no fogo.
Postado `as 12:14 PM
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PERFIL
Marls Kaputz é de Florianópolis, se esconde atualmente em Amsterdã, usa nome falso pra não ser achado pelos vizinhos e polícia.
No passado foi cobrador de ônibus e poeta.
De posse dessas duas funções, usou delas pra subverter garotas e mulheres casadas.
Teve que abandonar tudo, fugido de pais e maridos irados.
Depois tornou-se hippie, comunista, yuppie, motorista de caminhão, bicheiro, limpador de latrinas,
lixeiro, traficante, engenheiro. Hoje em dia tem uma firma que orienta vagabundos profissionais desemempregados em Amsterdã.
Marls Kaputz é lindo, macho e branco. Seria mais lindo ainda se fosse bicha e negro, mas contenta-se com o que D's lhe deu:
1.90 de safadeza, 49 anos, corpinho de 48, casou-se inúmeras vezes, perdeu a conta dos filhos que tem por aí, e atualmente é ajuntado com Neuzinha,
filha de um ex-bicheiro Paulista.