Quando Neide deu de cara com o olhar penetrante de Angenor foi que ela sentiu tremer dentro de si o terremoto da paixão.
Mesmo sabendo que Angenor não era o padrão do namorado anterior, jornalista, falante e discursado, versado nas poesias e nas políticas, que ela não entendia bulhufas, mas que sempre concordava com tudo. Pra compensar a falta de cultura literároa, compensava em bons boquetes depois do almoço.
Na certa Angenor nunca iria discursar nada sobre marxismo ou teologia da libertação, o máximo que ele conseguia era discursar sobre como funcionam as geladeiras, e pela primeira vez na vida ela entendera como funcionava um termostato. Angenor trabalhava há 10 anos numa loja de conserto de eletrodomésticos.
Mesmo em dúvida sobre o alcance da auréola intelectual dele, ela resolveu acompanhá-lo numa pescaria.
Todo a sua dúvida se foi quando ela viu Angenor urinando na beira do barco.
Ela não era esperada naquele momento, naquela situação, mas tudo que ela viu lhe deu certeza que preferia os termostatos a Karl Marx.
Discretamente, ela sacou da sua maquina digital de bolso, e tirou uma foto dele.